lunedì 5 maggio 2008

João Lopes fala do cinema italiano



O crítico português de cinema, João Lopes, fala do cinema italiano na edição desta manhã do jornal Diário de Notícias.

Cinema italiano: um património riquíssimo

JOÃO LOPES

No seu filme O Caimão, Nanni Moretti aborda a Itália de Silvio Berlusconi a partir da própria indústria cinematográfica. Mais concretamente, trata-se de retratar as atribulações de um pequeno produtor de cinema que se vê a braços com um projecto de filme sobre a figura de Berlusconi. Para além das óbvias ligações com o seu presente (O Caimão foi, em Itália, um dos grandes sucessos de 2006), o filme era também uma maneira de Moretti homenagear as vias mais populares da tradição cinematográfica italiana.

Afinal de contas, ele é um dos herdeiros de um cinema antigo ("pré-televisão") que vivia da popularidade dos seus actores, mas também desse misto de crueldade e ternura com que sabia abordar os grandes temas sociais, desde a reconversão económica pós-Segunda Guerra Mundial até à evolução dos usos e costumes durante a década de 60.

Estamos a falar de um cinema que, desde os tempos do mudo, cultivou os valores do grande espectáculo. Bastará lembrar o caso emblemático de Cabiria (1914), de Giovanni Pastrone, verdadeiro monumento cinematográfico apresentado no Festival de Cannes de 2006 numa cópia restaurada com o patrocínio de Martin Scorsese. Quando, na primeira metade da década de 40, são lançadas as bases do neo-realismo, isso decorre de uma outra dimensão vital: a capacidade de o cinema italiano funcionar como espelho multifacetado das convulsões históricas, contribuindo decisivamente para a formação de uma consciência nacional. Títulos como Roma, Cidade Aberta (1945) e Paisà (1946), ambos de Roberto Rossellini, ou Ladrões de Bicicletas (1948), de Vittorio De Sica, são verdadeiras histórias de resgate, contribuindo para a superação emocional das muitas formas de destruição herdadas da guerra.

O cinema italiano manteve ao longo das décadas de 60/70, nomeadamente no mercado português, uma genuína popularidade. A comédia, mais ou menos cruzada com o melodrama, foi um género exuberante, através de vedetas como Vittorio Gassman, Marcello Mastroianni ou Claudia Cardinale e realizadores como Luigi Comencini, Dino Risi ou Mario Monicelli. Isto, claro, sem esquecermos que essa foi também a época em que, através de autores como Michelangelo Antonioni ou Federico Fellini, a produção italiana esteve na linha da frente das grandes transformações dos "novos cinemas".

Apesar do contributo de autores como Nanni Moretti, Giuseppe Tornatore ou Roberto Benigni, a história do cinema italiano das últimas décadas está irremediavelmente marcada pela mediocridade imposta pelas televisões (Fellini, em filmes como Ginger e Fred, de 1986, foi dos primeiros a retratar esse processo de degradação). Seja como for, nada pode apagar a vitalidade da sua história e do seu património.

IN
http://dn.sapo.pt/2008/05/05/centrais/cinema_italiano_patrimonio_riquissim.html

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