mercoledì 5 novembre 2008

"A Corte do Norte" IV - por Rosanna Cimaglia


Comentário de uma aluna de Português ao filme "A Corte do Norte" de João Botelho, visto em grupo na passada sexta-feira, dia 31 de Outubro.


Uma viagem dentro a história da própria família e ao mesmo tempo uma viagem dentro da sua psique, é o que faz Rosamund, uma jovem mulher que vive uma complicada relação com a sua família e com os homens.
Através contínuos “flash-back”, Rosamund tenta explicar uma série de mortes misteriosas que marcaram várias gerações de mulheres da sua família na “Corte do Norte”, começando da sua trisavó Rosalina, passando pela Águeda – irmã do seu avô – até chegar a ela, que vive na tentação do suicídio das alturas de um recife, pensando que as ondas do oceano poderiam dar-lhe o último e eterno abraço pondo assim fim aos seus problemas. Mas o destino dela vai ser diferente depois ter passado alguns dias na “Corte do Norte”.
Filha duma mulher fria e insensível, incapaz de sentimentos e carinho maternal, Rosamund sente-se querida só pelo seu pai, com quem parece viver uma relação inconscientemente incestuosa.
Como as suas avós, ela vive obcecada e atraída por uma pintura que a família tem em casa e que representa a Judite no momento de cortar a cabeça a Holofernes. Diante desta pintura Rosamund admite odiar todos os homens – com excepção do seu pai – e que ela gostaria ter para com eles o mesmo gesto de Judite.
Judite é a heroína bíblica judia que defendeu a cidade de Betúlia da invasão dos inimigos matando o chefe do exército invasor. Ela é, alegoricamente, a representação da vitória da virtude sobre o vicio. Então, através de Judite, Rosamund queria afirmar isto, libertar a sua vida dos fantasmas do passado que parecem invadir a sua casa, a sua família, a sua pessoa. Poder-se-ia resumir: Rosamund / o seu mundo igual à Judite/Betúlia. Através da análise das relações entre os homens e as mulheres da sua família, ela quer afirmar a virtude das mulheres sobre o poder vicioso dos homens que a usam para seus gostos e prazeres, pondo-as em papéis que não respeitam as naturais inclinações das mulheres.
É um filme, o de João Botelho, que tem como fio condutor o da libertação e realização pessoal. Tudo é explicado por um jogo de aparência e realidade, aspirações e deveres, negação da realidade para conseguir viver. Estes temas encontramo-los na história da trisavó de Rosamund, a Rosalina (que se chama na realidade Emília) apresentada no início do seu drama como admiradora da princesa Sissi, que veio à Madeira por razões de saúde, com quem parece tentar uma relação homossexual. Em realidade a fixação por Sissi é só uma maneira de mostrar a verdadeira identidade e inclinação da Rosalina/Emília, que é a recitação, sendo ela uma actriz que se torna baronesa por casamento e por isso é constrangida a mudar nome e origem. Para se livrar desse casamento com filhos, obstáculos para a sua existência e felicidade, põe em cena na “Corte do Norte” o suicídio que a leva a viver a vida de que gosta, como a viver o amor sem vínculos com Sanha.
Fingido o suicídio de Rosalina, mas verdadeiro o suicídio da irmã do seu avô, Águeda, que assim se libertou do amor incestuoso, mas nunca consumado, com o seu irmão, jogador, insensível e amante de mulheres, que se aproveita desse amor incondicionado da sua irmã sem lhe dar nada em troca, com excepção da morte.
A história desenrola-se na ilha de Madeira, inquietante, selvagem, perfeita para representar essa aspiração que é também o drama interior que se agita nas amas das mulheres como as ondas do Oceano Atlântico, que precisam espaço e colocação contra e entre os escolhos negros, nus e descarnados das costas da ilha.
Apesar de ser um filme comprido, gostei de “A Corte do Norte”, um filme que precisa de atenção extrema do espectador, que o faz sentir ao centro duma teia de aranha. Não é casual a escolha de fazer declamar as diferentes misteriosas mulheres protagonistas da historia pela mesma actriz, Ana Moreira, através da técnica do flash-back, eclipsando particulares importantes para a compreensão da história nos diálogos como nos nomes dos personagens.
Poderia tentar definir-se este como um filme “gótico”, interessante, apresentado como concorrente no Festival do Cinema de Roma, mas que eu gostaria que pudesse ser visto por um grande publico em todos os cinemas.


ROSANNA CIMAGLIA

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