venerdì 14 novembre 2008

"A Corte do Norte" IX - por Laura Canzio

Comentário de uma aluna de Português ao filme "A Corte do Norte" de João Botelho, visto em grupo na passada sexta-feira, dia 31 de Outubro.


O realizador português João Botelho retira o filme do romance de Agustina Bessa-Luís. No início do filme está a chave de leitura principal dele: é um quadro de Caravaggio que representa a história de Giuditta e Oloferne, imagem que resume a atitude das mulheres, submissão e libertação.O realizador quis representar esta ideia.
As mulheres, de gerações diversas, devem lutar pelas mesmas coisas.Fala-se de mulheres fortes e homens fracos: no quadro de Caravaggio uma mulher corta a garganta de um homem.
O filme abre-se com Rosalina, uma rapariga de hoje, que sente uma misteriosa semelhança espiritual com as mulheres do passado da sua família. É uma viagem entre 1960 e 1860, na Corte do Norte.
Na ilha da Madeira, a rapariga esta fascinada pelos mesmos rochedos que atraíram a Baronesa Rosalina de Barros.
A personalidade desta mulher realiza-se em passagens sucessivas, do bordel frequentado na adolescência à fama de grande actriz teatral no fim de '800, com o nome de Emília de Sousa, ao matrimónio com Gaspar de Barros, o milionário e mulherengo que fez dela uma baronesa.
Rosalina identifica-se com as diversas partes. Conheceu a Princesa Sissi, imperatriz da Áustria, no Inverno de 1860-61, e depois da sua partida encena um triste destino sobre os rochedos da Corte do Norte.
A ilha de Madeira é uma protagonista ela mesma, sempre presente com a força da sua natureza.Ana Moreira é a actriz que interpreta todos os personagens femininos que são Sissi, Rosalina, Emília de Sousa, Águeda e Rosamund, todas estas mulheres se parecem fisicamente, parecendo também a mesma mulher impaciente da ordem que as sufoca, revolucionárias na vida.
Ana Moreira com a sua interpretação dá uma continuidade total. A história roda a volta do mistério que circunda o desaparecimento da Baronesa Rosalina de Barros. Os mais dizem que ela se suicidou, deitando-se dos rochedos em frente da moradia no Norte da Ilha. Dizem também que ela ficou doida, pensava de ser a imperatriz Sissi, de quem copiava gestos, comportamentos e maneiras de falar e as duas pareciam-se assim tanto que a soberana austríaca estava muito nervosa por isto.
Sissi exprime um poder feminino num mundo governado pelos homens, modelos de um masculino ao poder sempre igual nos séculos. Ela era uma mulher emancipada, a primeira mulher do século passado que teve muito poder e a comportar-se como um homem, anticonvencional e escandalosa. Rosalina, por seu lado, era demasiado moderna em relação aos seus tempos: esteve no norte da Madeira por quatro meses, durante os quais bebia com os pescadores, andava a cavalo, dançava toda a noite nas tascas. O cadáver da Baronesa não foi nunca reencontrado, alguém pensava que ela tinha fugido com o amante, um primo do marido.
Botelho não se inspira só na pintura de Caravaggio, mas também n’ "A morte de Marat" de Jacques-Louis David, que se vê no momento em que o pai de Rosalina, nos anos '60, é encontrado sem vida na sua banheira.
Botelho ama o claro-escuro dos quadros e utiliza o digital alta definição para exaltar o ser material e as imperfeições de homens e objectos e utiliza mesmo as duas telas, de Caravaggio e David, pelo estilo do uso da luz que ilumina coisas e personagens evidenciando a crua realidade.
LAURA CANZIO

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