mercoledì 26 novembre 2008

"Vale Abraão" de Vilma Gidaro

Suspensos no Vale Abraão...


Vale Abraão um filme que narra o amor inexistente



No filme Vale Abraão - realizado por Manoel de Oliveira, uma adaptação da revisitação da "Madame Bovary" de Agustina Bessa-Luís, que deu uma caracterização portuguesa e contemporânea do livro de Flaubert – o conceito do amor doloroso e doente, para mim, faz de cenário a cenas duma beleza enorme.

Tudo o que aparece põe os espectadores numa condição de espera, como se tudo fosse suspenso sobre este vale belíssimo do Douro, quase adormecido pelas cores do céu, das vinhas e pela justa lentidão que o realizador dá às sequências no tempo das cenas e da vida de Ema, a protagonista.

Um fundo sossegado, enquanto que a vida de Ema se enche de aborrecimento e tristeza. Neste contexto a história dela vê personagens masculinos fracos e muito longe de sentimentos verdadeiros. Homens que dão atenção a Ema só pelo lado sexual dela, por aquilo que é a sua beleza exterior, quer quem a deseja, quer quem a deveria acompanhar no seu crescimento.
Então Ema mesma, apreciará de si mesma somente este aspecto.

Até a tia beata Ema, que vive com ela desde a morte da sua mãe, em vez de a ajudar coloca-a, já na adolescência, na posição de mulher perdida e endiabrada, só porque Ema é belíssima e lê livros, actividade reservada aos homens.

Ema, sempre mais bela crescendo e portanto sempre mais perigosa no juízo do mundo, continua a viver pouco disposta às convenções da sua família e sociedade; todos os homens que a conhecem ficam fascinados por ela, um deles é o Dr. Carlos, médico, mais velho do que dela e já casado, que fica logo fascinado por Ema e ficará enamorado sem sequer esperar que seja correspondido pela mesma.

À morte da mulher do Carlos, ele e o pai da Ema combinam o seu casamento.
É este o momento no qual Manoel de Oliveira muda a actriz Cecile Sanz de Alba, actriz duma tenra beleza, por Leonor Silveira, a sua preferida, também ela de soberba beleza, que será Ema até a fim do filme, sem que esta envelheça, pois representa o símbolo da beleza como ameaça.
Um casamento a que Carlos, homem fraco e mais triste do que dela, não conseguirá dar vida, deixando Ema sempre sozinha, tanto que ela começará a procurar muitos amantes, confirmando a si mesma, ser só capaz de atrair os homens (todos, sem diferença de idade e de estado social), e não de ser amada ou de amar. Mas também por isso, Ema será sempre triste e procurará constantemente o amor que, contudo, nunca chegará na sua vida.

A única personagem positiva do filme, e companhia carinhosa de Ema, é uma lavadeira surda-muda que segue Ema no curso da sua vida, grande e silenciosa presença... delicioso e cheio de sentimento a saudação delas no final do filme.

As cores do filme mudam só na última cena que se desenrola num laranjal, com vivazes tons de árvores cheias de laranjas e com a presença de Ema vestida de branco e azul, que iluminam a sua cara, quando Ema quer procurar a morte. É naquela altura do filme que se dissolve a atmosfera que havia desde o início, e que se percebe o que é que estava suspenso no ar do vale...

Para mim, Vale Abraão, foi um filme tocante e muito complexo. Um filme que coloca aos espectadores muitas dúvidas sobre o sentido da vida e demonstra como um contexto social pode influenciar as pessoas, sobretudo aquelas mais frágeis.





VILMA GIDARO

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